Colmar Duarte - Criador da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul - atuou nos filmes Lua de Outubro interpretando Lourival e Netto Perde Sua Alma interpretando Calengo

 

 

 A PALAVRA 


 

                                                                (publicada em setembro de 2009) 

             A palavra de um homem é um tiro! Meu avô costumava usar esta frase querendo dizer que depois que ela sai não tem volta; não há remendo ou arrependimento que anule o que foi dito. Para um homem honrado a palavra dispensa os timbres e carimbos dos cartórios.

          Meu pai, certa ocasião emprestou uma quantia considerável a um amigo. Quando este perguntou se queria que assinasse um documento, disse que a palavra bastava. O amigo argumentou que um deles poderia morrer. Meu pai retrucou: conta pra tua mulher, que eu conto pra minha.

          Nas carreiras em cancha reta – diversão predileta dos homens do campo gaúcho – suas regras são respeitadas sem que estejam escritas. Há um código de ética, que não é quebrado nem pelo mais humilde peão de estância. Lá, entre a gauchada, “quem gospe não lambe”. A expressão consagrada :” um fio de bigode é um documento” afirma que um homem honra a barba que tem.

          Nos tempos de hoje, nos campos deste Rio Grande de São Pedro ainda se preserva e se respeita a palavra como um documento confiável. Como um bem que não se põe a venda por valor algum.  

Minha alma é terra virgem

Não tem dono nem divisa.

Se entrega a quem a pisa,

Dá frutos a quem a planta;

Se entristece com quem chora

Pra se alegrar com que canta. 

          Já entre os habitantes das cidades isso está cada vez mais difícil. Aqueles que estudam e tentam desvendar os labirintos da mente humana, chegaram à conclusão que todo homem tem seu preço. Talvez seja. Isso explicaria algumas alianças e coligações que nos surpreendem. Mas o que mais surpreende é constatar que estão se vendendo por tão pouco. Para garantir um salário ou uma função, não só comprometem a palavra empenhada como são capazes de colocar o nome num documento falsificado, respaldando e acobertando inverdades, em detrimento de pessoas honestas. Há quem seja capaz de assinar uma denúncia e depois, sem qualquer escrúpulo, aparecer como relator desse processo, assinando um parecer que destorce os fatos.    

          Formação de quadrilha, falsidade ideológica, estelionato, são crimes hoje banalizados.

          Entre os políticos da atualidade, com escassas exceções, isso é moeda corrente. Vende-se votos, vende-se fidelidade partidária, vende-se o interesse do povo. A palavra não vale mais nada. Hoje é revogado o que ontem era irrevogável. E os poderosos vão comprando lambe-esporas e usando seus cargos para punir aqueles que não se dobram a seus interesses eleitoreiros. 

          Arnaldo Jabor, numa de suas crônicas, faz um registro das manifestações de nossos ressentimentos passivos e lamenta nossa falta de atitude diante da deterioração de nossos valores. Pergunta quando mudaremos para a participação ativa. E acredita, entusiasmado pelo espírito de comunidade de uma roda de chimarrão, do civismo com que entoamos o hino ao Rio Grande – coisas já perdidas pelos brasileiros de outros regiões – que nós saberemos buscar em nossas raízes a indignação que fará com que levantemos nossa bandeira pela redenção da honra e da dignidade.

          Não sabe ele que há muita gente que toma mate e canta o hino ao Rio Grande e não honra as bombachas que usa. 

Em tempo: há carapuças à venda, que podem ser usadas em desfiles e festejos comemorativos.   

Imprimir

  Clique na Capa para Adquirir meus Livros

    
Frutas AmargasO Fantasma do Passo do SilvestreTempo de Viver

marcas,logos e símbolos pertencem aos seus proprietários - portal.sulnet.com.br copyright © 2019