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(publicada em setembro de 2009)
A palavra de um homem é um tiro! Meu avô costumava usar esta
frase querendo dizer que depois que ela sai não tem volta; não há
remendo ou arrependimento que anule o que foi dito. Para um homem
honrado a palavra dispensa os timbres e carimbos dos cartórios.
Meu pai, certa ocasião emprestou uma quantia considerável a
um amigo. Quando este perguntou se queria que assinasse um
documento, disse que a palavra bastava. O amigo argumentou que um
deles poderia morrer. Meu pai retrucou: conta pra tua mulher, que eu
conto pra minha.
Nas carreiras em cancha reta – diversão predileta dos homens
do campo gaúcho – suas regras são respeitadas sem que estejam
escritas. Há um código de ética, que não é quebrado nem pelo mais
humilde peão de estância. Lá, entre a gauchada, “quem gospe não
lambe”. A expressão consagrada :” um fio de bigode é um documento”
afirma que um homem honra a barba que tem.
Nos tempos de hoje, nos campos deste Rio Grande de São Pedro
ainda se preserva e se respeita a palavra como um documento
confiável. Como um bem que não se põe a venda por valor algum.
Minha alma é terra virgem
Não tem dono nem divisa.
Se entrega a quem a pisa,
Dá frutos a quem a planta;
Se entristece com quem chora
Pra se alegrar com que canta.
Já entre os habitantes das cidades isso está cada vez mais
difícil. Aqueles que estudam e tentam desvendar os labirintos da
mente humana, chegaram à conclusão que todo homem tem seu preço.
Talvez seja. Isso explicaria algumas alianças e coligações que nos
surpreendem. Mas o que mais surpreende é constatar que estão se
vendendo por tão pouco. Para garantir um salário ou uma função, não
só comprometem a palavra empenhada como são capazes de colocar o
nome num documento falsificado, respaldando e acobertando
inverdades, em detrimento de pessoas honestas. Há quem seja capaz de
assinar uma denúncia e depois, sem qualquer escrúpulo, aparecer como
relator desse processo, assinando um parecer que destorce os fatos.
Formação de quadrilha, falsidade ideológica, estelionato, são
crimes hoje banalizados.
Entre os políticos da atualidade, com escassas exceções, isso
é moeda corrente. Vende-se votos, vende-se fidelidade partidária,
vende-se o interesse do povo. A palavra não vale mais nada. Hoje é
revogado o que ontem era irrevogável. E os poderosos vão comprando
lambe-esporas e usando seus cargos para punir aqueles que não se
dobram a seus interesses eleitoreiros.
Arnaldo Jabor, numa de suas crônicas, faz um registro das
manifestações de nossos ressentimentos passivos e lamenta nossa
falta de atitude diante da deterioração de nossos valores. Pergunta
quando mudaremos para a participação ativa. E acredita, entusiasmado
pelo espírito de comunidade de uma roda de chimarrão, do civismo com
que entoamos o hino ao Rio Grande – coisas já perdidas pelos
brasileiros de outros regiões – que nós saberemos buscar em nossas
raízes a indignação que fará com que levantemos nossa bandeira pela
redenção da honra e da dignidade.
Não sabe ele que há muita gente que toma mate e canta o hino
ao Rio Grande e não honra as bombachas que usa.
Em tempo:
há carapuças à venda, que podem ser usadas em desfiles e festejos
comemorativos.
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